domingo, 1 de janeiro de 2017


Conversas do diabo

Não sei se já sentiram que morreram!
Às vezes acontece-me, ainda que tente demonstrar o quanto me agarro à vida.
Quando assim é, faço as malas e embalo os 15kg de recordações a que tenho direito.
Não permitem mais, mas visto-me das lembranças que não me cabem na imaginação.
Tenho os bilhetes comigo com o destino traçado. No check in perguntam-me se tenho preferência pelo lugar!
«Sei que tenho as portas do inferno abertas», respondo, mas prefiro persuadir a segurança para que me deixe entrar no céu. Não porque seja claustrofóbico, mas porque não conheço de todo o lugar.
Também nunca fui ao inferno é certo, mas é um destino batido e toda a gente me fala dele.
Sempre ouvi dizer que existem coisas que não lembram o diabo, e não é minha intenção lembrá-lo!
Quanto ao céu, só me sabem dizer coisas boas, mas vagas. Não sei a língua, o custo de vida, as tradições nem a comida típica. Dizem que é do tamanho do mundo, por isso parece-me um bom sítio para explorar.
Claro que não coloco de parte molhar os pés no inferno, mas não para já!
Há muito que me tornei um espírito inquieto, financiado pela vontade de ir, tendo apenas como contrapartida o incomodo de voltar.
Dito de outra forma, não sou pessoa com muitas saudades do regresso!
As saudades são do ir, quando muitas vezes, ainda me encontro por lá!
Gosto de estar, mas ainda mais de ser. Gosto de viajar pelas recordações e de desenhar as minhas próximas histórias...
«Senhores passageiros, é favor desligar os dispositivos eletrónicos e apertar o cinto de segurança. Estamos prontos para a descolagem»!.