domingo, 28 de novembro de 2010

Sonhar

Hoje comprei um sonho agónico:
Acordo numa avenida para não fumadores!
Arrombo a loja da insensatez como se a
vida intima das palavras invadisse!
Roubo uma caixa de pensamentos esquizofrénicos!
Com os bolsos cheios de loucura
escondo-me na marcha lenta do quotidiano!
Para trás, o desafio superado!
Assustado, viro na primeira à esquerda
e dou de caras com um bloco imóvel!
Encontro um trabalhador que, resignado,
me aponta à direita, mas a anarquia não me seduz!
Acabei por me suicidar com um despertar afónico!

(Há quem se suicide ontem para viver o presente!
O suicido é uma rima curta,
um abraço ao alivio!)

Acordo!
Levanto-me e bocejo criatividade,
Esfrego os dentes com discursos alienados!
Visto uma cara engomada!
Na cozinha o pequeno-almoço preparado: uma tigela
de imprudência e uma peça de concentração!
Para levar, uma sandes de realidade bem passada!
Saio de casa para devolver o sonho,
mas parece que assaltaram a loja onde se fabricam!

Volto a casa!
Descalço a formalidade!
Liberto a rolha do champanhe
e a chuva verte dos céus!
Ligo o rádio
e a natureza cala-se!
Deito-me na cama e abraço a miúda.
"Respira-me" disse ela,
enquanto me observa a adormecer!
Penso no sentido das coisas sem sentido
e volto a sonhar!