segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Devaneio

Que me perdoem
todos os meus amanhãs,
mas não é que «aqui atrasado»
desatei-me a reviver recordações!
Assim,
instalado numa cadeira de tabus,
bebendo ócio e degustando displicência,
encontrei-me uma vez mais
com todos os meus ontens,
noutro lugar, noutra utopia absurda!
...
Lembrei-me daquela
noite errante, furtiva
que não havia maneira de findar!
Recordei a lua!
Mais parecia uma pedra-pomes!
...
Uma vez mais espreitei
à fechadura da insensatez!
Despi a sua nudez com
promiscuas dioptrias,
notando uma claridade difusa!
Abriu um livro!
Estudei a farmococinética
orgásmica dos impulsos!
Escutei o sono,
a crepitação dos sonhos!
...
Falaram-me numa donzela
e fui granjeá-la ao gueto!
E não é que era um tacho a ferver?
...
Enquanto isso
proclamavam na rua:
"Se Deus a deu, Deus a levou!"
...
Perguntei quem era Deus!
"É o dono do Céu. Deves
encontrá-Lo lá", disseram-me.
...
Sem medo de cair, pús-me a caminho,
deixando o Inferno na gaveta!
E eis que encontrei alguém à porta,
sentado numa poltrona,
finalizando um cigarro.
Apresentava uma tatuagem de lágrimas
desenhada no corpo.
Perguntei-Lhe: "És Deus?"
"Depende da perspectiva", refilou.
"Isto é o Céu?"
"Chamo-o de refúgio", respondeu.
Insisti: "Se 5 Nortes tem o meu Mundo,
quantos tem o Teu?"
"O meu?", disse Ele surpreendido!
"Ora então, é fazer as contas:
nove fora nada, fica um,
o DesNorteado!
Sou um sem-abrigo com rumo!
Dizem que morri de parto,
mas estou aqui, ali, por aí,
a ensaiar a conveniência
do improviso!
A afinar a Epopeia
do Equinócio derisório!
E se não viver nesta vida,
é porque não senti a vossa falta!", finalizou.